Nossa metodologia

"Desconstruindo nossas verdades pessoais em busca de uma verdade comum".

Rafael & Trilce, 2013

Descolonize-se

Quando pensamos na Copa do Mundo o coração aperta, queremos que nossa seleção seja campeã, imaginamos os jogos e a emoção de gritar um gol junto com um país inteiro. Entretanto, é importante analisarmos a partir de outros pontos de vista os impactos que os grandes eventos junto a todo o aparato bélico-financeiro podem trazer aos habitantes locais. O documentário que apresentamos a seguir abre vários questionamentos que tentam mostrar outras realidades muitas vezes não abrangidas pelas mídias oficialistas. 

Qual é o preço da Copa? O direito a moradia, um dos principais na constituição brasileira, parece não ser igual para todos. Devemos naturalizar as desapropriações de populações inteiras, que apagam as estórias locais, com suas memórias e sua ancestralidade em prol dos mega eventos? O lar é o lugar onde vivemos, criamos nossas estórias, e construímos parte da nossa identidade. Será que o Estado, amparado pelos donos do poder, tem mesmo o direito de vir à nossas casas, bater em nossas portas e dizer que por causa da Copa ou de qualquer outro destes mega projeto temos que migrar para locais pré-estabelecidos por eles, que pouco ou nada nos dizem?

Quem são os brasileiros desalojados? O que é que dá valor a nossas vidas?




                                            

    

                                                      
                                                                                                           
 

 







Carlos Drummond de Andrade, sempre atual:




Documentário "A caminho da Copa"

O documentário "A Caminho da Copa", desenvolvido pelo Ponto de Mídia Livre Pólis Digital, aborda a diversidade de opiniões a respeito dos impactos, positivos e negativos, da preparação dos megaeventos no cotidiano das principais cidades brasileiras. Raquel Rolnik, Carlos Vainer, Juca Kfouri, Toni Sando, Vicente Cândido e moradores de São Paulo e Rio de Janeiro atingidos por obras urbanas ligadas aos eventos da Copa do Mundo e Olimpíadas são entrevistados no filme.



O futebol reserva surpresas diferentes para pessoas diferentes. O que esperarmos do futebol?

"Brazuca"
Gabriel, o Pensador






Qual é a nossa postura como cidadãos brasileiros frente a estes acontecimentos? Será que a gente merece?

"Comportamento Geral".
Gonzaguinha




Que “ista” sou eu? Vamos dar nome aos bois? (Por Rafael Teixeira)
As manifestações em busca de maiores e melhores direitos que explodiram em junho deste 2013 e continuam acontecendo, vêm me fazendo refletir e questionar sobre democracia, participação popular, autoritarismo, violência, vandalismo...enfim, termos que estão na boca de progressistas e conservadores, atores e expectadores deste momento histórico que o Brasil atravessa.
Antes de tudo, gostaria de atualizar a percepção do papel sociopolítico que penso cumprir nesta sociedade. Nasci no bairro da Tijuca, Zona Norte da cidade Rio de Janeiro e ao longo dos meus 28 anos, recém cumpridos, sofri ao não me sentir identificado com o que observo ao meu redor. Hoje em dia tento desconstruir minhas verdades construídas a partir da educação que me foi dada (sim! Fui passivo na enorme maioria das vezes, embora queiram que eu diga sempre que sou ativo com “a” maiúsculo!) e analisar alguns porquês desta percepção. Ouvi a vida toda muita gente falar, por exemplo, de racismo, colonização, autoritarismo, machismo, mas quase sempre num sentido amplo, vazio de conteúdo e, portanto, de significação.
Arriscando colocar algumas perspectivas para dar sentido a esta realidade (a minha, em especial, pois para tentar falar das percepções alheias, preciso primeiro entender como fui “construído”), reflito sobre alguns episódios cotidianos. Não seria pura questão de ideologia, um sujeito de classe média daqui do bairro intitular-se “branco”, se está na cara que ele é mestiço como eu, aliás, como as gentes dessas terras latino-americanas? Por que os “brancos” mestiços que vejo por aí criticam quando outro mestiço diz-se preto (ou “negro”, como queiram chamar) e consegue uma vaga na faculdade por cotas raciais? Seria a falta de uma educação multicultural a raiz de todos os problemas? 
Pego um celular ultramoderno desses criados nos “estates” chamados de “smart phone”, que na língua que nos foi imposta aqui no “Brasil” seria um “telefone inteligente”, e vejo quão burro sou eu. Pareço um índio manipulando a tela “touch”. No entanto, vejo isso como uma forma de resistência. Afinal por que é feio ser índio?
 Ao analisarmos a carga dos termos que usamos ao falar nossa língua materna (?), o português, podemos levantar alguns dos porquês dessa estética preconceituosa. Somos “americanos” pela “sorte” que tivemos de termos sido “descobertos” (?) por Américo Vespúcio, macho alfa, colonizador, saqueador de riquezas. Somos brasileiros pela “sorte” de nascermos neste país chamado pelos portugueses de Brasil, fruto da abundância de pau-brasil que havia por aqui pronto para ser saqueado em prol da estética real. Sim! Roubavam-nos as riquezas naturais para tingir tecidos de vermelho, cor predileta da realeza colonizadora. Vale a pena lembrar que quem decidiu, com base na força, o limite dos “países” que existem hoje, bem como iriam funcionar também foram nossos queridinhos colonizadores, machos alfa, através de um tratado assinado lá em Madrid. Nossa jurisprudência é greco-romana; o calendário que utilizamos foi criado pelo papa Gregório, e atualizado pelo imperador romano Júlio César, ambos machos alfa europeus. A colonização veio (e vem) trazendo tudo de fora e acabando com as culturas daqui, por isso não contamos mais o tempo em luas como antes faziam os índios dessas terras. Pobres índios. Homens e mulheres que por equívoco aliado ao autoritarismo gerado pela força das armas dos colonizadores foram assim chamados. Para termos ideia da confusão, os gênios advindos lá da terrinha acreditavam terem dado a volta ao mundo e chegado à Índia após terem cruzado os mares antes inexplorados. Viajavam com a perspectiva de enriquecer-se através da abertura de novas rotas comerciais para o saqueio riquezas, já que os poderosos árabes haviam fechado o Mar Mediterrâneo, também através da força, e frustrado a empreitada ibérica de colonizar aquele local. Índios pobres. Não foram respeitadas sua cultura, sua linguagem, sua estética e sua noção de desnudes. Foram chamados de selvagens, vagabundos, vândalos e baderneiros, por não aceitarem de forma pacífica o trabalho imposto pelos portugueses e espanhóis pouco chegados ao trabalho. Claro! Manda quem pode, obedece quem tem juízo! Por conta disso, tiveram a ideia genial de escravizar populações inteiras de africanos, reis, rainhas, pensadores, homens, mulheres e crianças para trabalharem, sem qualquer remuneração, de modo forçado nas lavouras brasileiras. Obviamente, não lhes seria mais permitido acreditar no que acreditavam, dançar o que dançavam, comer o que comiam, viver como viviam. Pobres pretos.
Por sorte existem outro tipo de europeu. Machos alfa europeus brancos, detentores do saber, com ideais comunistas, imortalizados pelos alemães Karl (ou Carlos?) Marx e Friedrich (ou Frederico) Engels e anarquistas, vinculados pelo teórico russo Mikhail Bakunin que nos ajudaram a brigar pela destruição dessa ideologia europeia de estados e de classes socioeconômicas, surgidas antes da onda feudalista, e atualizadas pelos capitalistas guiados pelo filósofo e economista escocês Adam Smith (macho alfa). Contudo, essa luta ainda não foi vencida, mesmo que hoje (e, sobretudo hoje) possamos perceber com maior intensidade as ranhuras e rupturas do sistema capitalista. Comunistas e anarquistas, homens e mulheres, adultos e crianças, caminham lado a lado nas manifestações pelas ruas de nosso país com o desejo de expulsar os senhores FIFA (machos alfa) dessas terras e travar com o seu principal sonho de consumo, o de realizar a Copa do Mundo (lotada de times europeus) por estas bandas.
Buscamos igualdade, liberdade e fraternidade? Ainda que imerso nessa sociedade “ocidental”, capitalista, me esforço para não fechar o meu pensamento para outras possibilidades existenciais. Quero relativizar o ponto de vista de quem está olhando, e assim trabalhar minha humanidade. No entanto, ao utilizar os pronomes possessivos meu, minha, e falar de mim, de “eu”, não estaria dando sinais do egoísta que sou? A quem importa minha opinião? Deve ser esta imposta aos outros? Devo continuar reproduzindo esse autoritarismo que aprendi com meus professores? E meus pais? Foram autoritários? Quantas violências sofri? Quantas pratiquei? Por que não dialogar com meus comuns e pensar outras possibilidades diferentes as idealizadas pela escola capitalista, individualista? Ser de direita ou ser de esquerda? Girondinos ou jacobinos? Seguir a tradição judaico-cristã ou não? Monogamia ou putaria? Estar do lado da civilização ou do vandalismo? Ser ou não ser? Por que ser shakeaspereano? Onde me enquadro? Egoísta, capitalista, comunista, anarquista, machista, feminista...que “ista” sou eu? Preciso ser normal? O que é a normalidade? Quais e quantas opções existenciais foram e são violentamente encobertas desde a colonização feita ao longo dos tempos pelos machos alfa, donos do saber? Como seríamos se tivéssemos sido colonizados por mulheres? Lutaríamos contra o feminismo imposto? Sería bonito ser machista? O que pensam disso os oprimidos e as oprimidas das áfricas, das américas, das ásias e das oceanias? O que queremos quando lutamos por mais liberdades? Participação popular neste sistema criado por europeus? Por que só é ordem essa ordem? Realmente é necessário rotularmos nossas vidas para vivermos tranquilos? É necessário dar nome aos bois? Ficam as dúvidas. Sobretudo as desse homem-fêmea, careca-cabeludo, barbudo, barrigudo-porém-magro, cabeçudo-cabeça-vazia, anarco-comunista-capitalista, roqueiro-samba-funk-axé-sertanejo, hetéro-liberal-homo-bissexualmente-afetivo, que lhes escreve a procura de respostas.




A seguir, a loucura nossa de cada dia:









Quanta riqueza cultural deixamos esvair-se pela ganancia de alguns poucos. E você? Conhece a ancestralidade dos lugares por onde passa? Preservemos nossas culturas!